Hoje é Dia da Pizza. E estava tudo certo para que, ao abrir essa edição, você estivesse lendo um minucioso ensaio sobre os melhores locais de São Paulo para comer uma redonda, como costumava se escrever (na falta de um sinônimo melhor) numa das redações por que passei. Acontece que toda cara de pau tem limite e, após intensas reflexões, cheguei à conclusão de que não teria muito a acrescentar sobre o tema. Não sou um profundo conhecedor de pizzas, não acredito que eu tenha ido a pizzarias que você não conheça — inclusive, aceito dicas — e tenho certeza que dedicaria mais linhas do que se deve a questões como a pertinência do uso de ketchup nesses locais, que eu defendo — mas você tem todo o direito de condenar.
Posto isso, me dediquei à ingrata missão de caçar um tema digno de algumas linhas. Dizer que me dediquei talvez seja forte, já que o mais correto seria dizer que fiquei de pensar no assunto. Assistindo um programa de TV, ouvi o apresentador contar da vez que foi à Praia do Perigoso, que fica depois da Pedra do Telégrafo. Segundo o apresentador, o caminho entre a pedra e a praia é repleto de subidas, apesar da incoerência intrínseca de se ter de subir para chegar a um local que fica ao nível do mar. A conclusão do apresentador é que, no fim das contas, o caminho nem tem tantas subidas assim. Mas a memória, essa senhora aborrecida, não dedica a mesma atenção às descidas, que necessariamente são mais frequentes.
É uma boa história, mas e daí? Não dava para eu chegar aqui, escrevê-la e mandar um "até a próxima quinta, pessoal". Sendo assim, fui ao quarto tomar um remédio e vi O amor nos tempos do cólera, livro que acabei de ler. Conta a história de Florentino Ariza, um adolescente que se apaixona por uma menina e demora 60 anos para conquistá-la. Dei graças a Deus por só ter lido agora, porque, se a teimosia é um dos combustíveis da juventude, saber desistir é parte essencial de se fazer adulto. Tivesse eu lido antes e essa lição talvez demorasse um pouco mais para ser internalizada. É preciso saber desistir, desapegar, esquecer e tudo mais que faz com que a vida siga adiante, ainda que algumas coisas sejam dignas de intransigência.
Há quem vá chamá-las de caráter, mas não acho que reserva de emergência seja um nome tão ruim.
Olho pela janela da sala. Na paisagem cinza com mais verde que a média que tivemos a sorte de conseguir, vejo, pela primeira vez, um ipê-roxo. Sei que é um ipê-roxo no instante em que vejo e, se consulto o Google antes de escrever, é só para não errar. Sei que é um ipê-roxo porque é época da florada dos ipês. O que eu não sabia era da existência de um ipê-roxo, frondoso, na frente de casa. No fim, é (quase) tudo uma questão de ponto de vista. As pizzarias que eu conheço e posso recomendar a você. As descidas no caminho para Praia do Perigoso. As mulheres que Florentino Ariza amou sem perceber antes de Fermina Daza.
A vida é, em grande parte, sobre aquilo que você escolhe prestar atenção no lugar de outras coisas.
E aí, curtiu? Mande um alô!
Salve, meu povo! A edição em dose dupla fez sucesso dobrado. A Ana PB reclamou que o número sobre corrida não ficou entre os melhores do semestre. Por transparência, informamos que ele não foi dos mais comentados e curtidos por aqui. Já sobre o Botafogo, Eliete Pereira disse que o tempo lhe ensinou a conviver sem sofrer com essas instabilidades.
Ana Rita, Carlos Sousa, Ludmila Primo e Tiago Rogero deixaram likes.
Curtiu? Conte via Insta, BlueSky ou e-mail.
Até quinta, às 8h30, aqui na Eixo.
Estamos a 3 assinantes dos 300. Não é nosso assinante ainda? Então, clique aqui.
Saulo, peça a Ana Rita para vocês visitarem Brasília na floração dos ipês (brancos, amarelos, verdes e roxos) . Garanto que pizzas com catchup ou não , o Amor no Tempos do Cólera, etc. serão apreciados intensamente diante das cores exuberantesde cada ipê.
Vim aqui registrar que apoio o catchup sempre.
Mas acabei refletindo que li Amor nos tempos de cólera muito cedo. Pra mim ainda é uma história de amor e meu livro preferido. Morro de medo de ler de novo e entender tudo. Prefiro não prestar atenção nisso kkkk