Por Saulo Pereira Guimarães
Rua Sumidouro, 747, 18º andar. O site — onde eu trabalhava — ficava mais perto dos banheiros. A revista — com mais prestígio —, mais longe. O restaurante da firma tinha ilha de massas, salame de chocolate e, de tempos em tempos, batata noisette. Uma vez, os colegas me fizeram uma festa de aniversário e eu não fui, porque estava em horário de serviço. Dali, noticiei os protestos de junho. Lembro da cidade vazia ao voltar de lá após o 7 a 1 e dos ataques ao prédio às vésperas da eleição de 2014.
Todos os imóveis da Praia de Botafogo têm numeração par. A exceção é o Mourisco, onde funcionava a redação. Ali, fui apresentado a fechamento, Galeto Sat's e à sensação de escrever uma reportagem de capa. Uma vez, uma confeitaria de Vila Isabel mandou um forno cheio de salgadinhos para um colega então diabético e hoje já falecido. Eu precisava pegar um ônibus até o Centro e outro até em casa para voltar. Quando consegui um apartamento mais próximo e Ana Rita estava para mudar, fui demitido.
Nenhum endereço de trabalho tinha vista mais bela do que o Praia do Flamengo, nº 100. A cobertura de frente para o Aterro dava para o Pão de Açúcar, um luxo em dias de sol. Foi ali que desenvolvi o hábito de voltar do trabalho de bicicleta e desbravei todos os quilos da rua do Catete. Escrevi sobre a Guarda Negra do imperador — o texto saiu do ar, uma pena — e duvidei quando disseram que o Eduardo Cunha marcaria o impeachment para um domingo. "Ninguém vai querer ver na TV", lembro de dizer.



Armando Lombardi, 333. Agora, a revista funcionava no antigo endereço de uma boate. Saíram barmen, pitboys e piriguetes; Ficamos designers, fotógrafos e repórteres. O ambiente era pintado de branco de fora a fora. As reuniões de pauta aconteciam no mezanino. Dessa vez, conheci a Olegário e os bares chiques da Barra. Escrevi sobre a Dias Ferreira do subúrbio. Uma capa chamando o prefeito de mal-amado. Outra, denunciando os processos contra a companhia de energia. Depois disso, a revista fechou.
Irineu Marinho, 35, 3º andar. De 7h às 15h. Redator. Os repórteres saíam de manhã cedo. Aos poucos, os retornos iam chegando e eu consolidava em textos para o site. Uma vez, um deles ficou sabendo que o prefeito passeava de carro por uma via interditada pela Justiça. Capa! De outra, um burburinho na sala do colunista no fim do meu expediente. Era o vídeo da facada. O carpete era azul. O café era ruim, mas de graça. E a dona do galeto onde o pessoal gostava de almoçar virou bolsonarista.
A redação é o escritório do jornalista. É de lá que partimos para apurar as histórias. É de lá que saímos cabisbaixos ao sermos dispensados e radiantes após o bom trabalho. É lá que as melhores histórias acontecem para serem contadas depois, no bar. Hoje é 1º de maio. Para alguns, dia do Trabalho; Para outros, dia do Trabalhador. Um não existe sem o outro. Ou, mais precisamente, o outro não existe sem o um. Que você esteja de folga, possa desfrutá-la e lembre com carinho de locais em que exerceu seu ofício.
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Salve, meu povo! A última edição gerou uma chuva de carinho. Eliete Pereira amou ("Rio não foi feito para chuva"), Dinorá Zanina concordou ("Rio, sol e praia é a melhor pedida") e Marina Maciel lembrou de quando levou 3h num percurso de 35 minutos em SP ("Aprendi que a pé chego mais rápido do que de ônibus travado no cruzamento").
Amanda Evelyn, Carlos Sousa, Julianna, Ludmila Primo e Renan França deixaram likes.
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Até quinta, às 8h30, aqui na Eixo.
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Nada apaga a alegria do trabalho que se faz com prazer, com amor!
Feliz de quem histórias do trabalho para contar; principalmente quando o trabalho exercido é uma escolha nossa.
Parabéns por exercer tão bem sua função.