Por Saulo Pereira Guimarães
Minha mesa no trabalho fica entre as mesas de duas colegas. Para efeitos de identificação, vamos chamá-las de Paula e Deolane Bezerra. Paula senta à minha esquerda. Deolane Bezerra, à minha direita. E, para o meu azar, as duas desenvolveram nos últimos meses o péssimo hábito de participarem de provas de corrida.
Trata-se de um verdadeiro inferno. Volta e meia, me vejo literalmente em meio a discussões sobre treinos, marcas de creatina e outros elementos desse universo acelerado. Minha conversão é, claro, uma meta delas, que já tentaram me convencer com convites para Meia Maratona do Rio, em junho, e outros eventos, desde quando eu caí na besteira de comentar que Ana Rita estava pensando em começar a correr. A pressão social é enorme. Temos uma amiga que mora Argentina e corre. Outra que mora no Ipiranga e corre também. Não sei de outras coincidências entre a Argentina e o Ipiranga, o que prova que a corrida é uma febre global.
Outro dia, fui ao Expo Center Norte cobrir a presença de Tarcísio e Bolsonaro na abertura do 14º Salão das Motopeças. Um ambiente insuspeito, certo? Quando minha expectativa era de que as autoridades adentrassem o hall envidraçado em cima de possantes Halleys Davidsons, a colega da Folha começou a conversar com o colega da CNN na rodinha de jornalistas. O tema? Corrida! Ele descrevia sua fascite plantar enquanto ela narrava uma prova off road no litoral. Foi terrível.
Antes que a ironia passe batida, deixo claro: não tenho nada contra corridas. Minha implicância — crônica e constitutiva do que eu sou — diz respeito a qualquer item ou comportamento que se torne tendência sem uma razão que justifique isso. A bem da justiça, eu até admito que existe uma razão para que todos à minha volta tenham começado a correr. Afinal, manter uma rotina de atividades físicas sendo um jovem adulto assalariado em um país permanentemente em crise não é mesmo nada fácil — ainda que necessário. Eu prefiro pedalar, o que até poderia ser considerado mais elitista da minha parte — se correr não exigisse pagamento de inscrições em provas e outras despesas que, contra a minha vontade, eu fui forçado a saber que existem.
Correr é caro, eles dizem. Eu acredito.
No sábado, saí com Ana Rita para comprar um tênis. Um tênis qualquer mesmo, que eu pudesse usar justamente para ir ao trabalho. Entrei na loja, achei o modelo que tinha em mente e pedi meu número ao vendedor. Quem já me viu ao vivo pode imaginar que comprar sapatos não é algo muito simples para mim — por conta do meu tamanho — e o cara teve de ir a uma outra loja para achar o calçado que eu tinha pedido. Nesse meio-tempo, Ana Rita começou a olhar alguns modelos — justamente para começar a correr — e bem mais caros do que o meu. Nesse dia, descobri que há tênis que são mais caros porque viralizaram na internet como bons para correr.
Não está claro para mim como e quando deixamos as coisas chegarem a esse nível. O certo é que, dentro em breve, devo ser convencido a começar a correr também.
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Salve, meu povo! A última edição foi só sucesso. Eliete Pereira disse que a Zona Norte é boa fonte de inspiração. Conhecedora de "sabores inesperados" da região, Ana Rita ficou curiosa com a obra — assim como Camila Maia e Lucas Teixeira. E Marilia Almeida deu ao marido exemplar que ganhou na firma.
Carlos Sousa, Carol Nogueira, Helena Borges, Kami, Leticia, Ludmila Primo, Marilia Almeida e minha mãe deixaram likes.
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Estou na torcida para que lhe convençam a virar um adepto da corrida. Não, necessariamente, para se tornar um grande maratonista, mas, praticante regular de corrida, em prol de sua saúde. Quanto ao preço dos tênis, certamente, é um choro desnecessário. O que representa um pingo d'água num oceano?
Gosto do seu tom descontraído, às vezes irônico, para tratar de assuntos sérios. Praticar atividade física é necessário. O problema é virar modismo e tornar-se dispendioso.