Por Saulo Pereira Guimarães
Quando foi a última vez que você encontrou uma pessoa importante? Alguém que tenha feito algo com impacto na vida de várias pessoas. Tem gente que passa a vida toda sem encontrar alguém assim. Já outros praticamente vivem para esses encontros. Entre esses dois extremos, cabe toda a humanidade.
O jornalismo me apresentou algumas pessoas importantes. Em 2017, cobri um protesto no qual a Marielle esteve presente. Em 2024, entrevistei a Marina que, apesar do despeito de alguns senadores, é importantíssima quando o tema é meio ambiente. E, entre um encontro e outro, fui à Flip de 2017 com a Ana Rita.
Lima Barreto era o homenageado. Havia um clima geral de "finalmente". O Itaú lançou os banquinhos de papelão, que minha avó adorou. Nós estávamos no auditório quando dona Diva deu seu depoimento emocionante. O auditório era em frente à igreja e, numa noite, atravessamos o canal para encontrar uma amiga.
Nossa amiga estava acompanhada de algumas pessoas. Uma delas era a Ana Maria Gonçalves. Eu sabia que ela era escritora, autora de um livro conhecido. E só. Por sua vez, a Ana Maria não fez questão nenhuma de dizer quem era. Ficamos ali, no sereno, curtindo a atmosfera de "conseguimos" que envolveu aquela Flip.
Em 2023, Ana Rita decidiu ler Um defeito de cor. O livro é da Ana Maria e conta a história de Kehinde, uma escravizada trazida ao Brasil que conquista a liberdade e tem um filho que desaparece. Ana Rita se apaixonou pelo romance. Fui ler e não me arrependo. São 950 páginas e não dá vontade nenhuma de parar.
A obra mostra como era, na vida real, uma das coisas mais surreais que já existiu: a escravidão. Mas seu grande mérito é contar esse episódio triste de uma forma que inspira, mas não entristece. Além disso, não é um livro histórico ou panfletário, mas uma história contada de maneira eletrizante, como deve ser.
Quem leu, não esquece.
Um defeito de cor é de 2006. Não teve a badalação de um Budapeste ou um Torto Arado no lançamento, mas foi ganhando adeptos. Já vendeu mais de 150 mil cópias, inspirou exposição e até um desfile emocionante da Portela. No sábado, foi anunciado como o melhor livro de literatura do Brasil no século XXI.
Merecidíssima, a honraria me fez lembrar da Ana Maria. Ao que tudo indica, eu e Ana Rita tomamos cerveja com uma pessoa importante numa noite fria de julho em 2017 e concluí que gostaria que isso ficasse registrado. Ontem, soube que a Ana Maria entrou na disputa por uma vaga na Academia Brasileira de Letras.
Desejo toda sorte do mundo a ela, de verdade. A Ana Maria é favorita e, caso seja escolhida, será a primeira mulher negra a ocupar uma cadeira por lá. Em caso de escolha, ganha mais a Academia do que ela que, com um livro só – Um defeito de cor – já foi capaz de entrar para a história do Brasil.
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Salve, meu povo! A última edição gerou um tititi que não foi brincadeira. Dinorá Zanina disse que acha a onda reborn "exagerada, estranha" e avisa que os bebês de verdade "exigem muito mais". Para Eliete Pereira, há "uma indústria tirando proveito da situação". E a Gabi Ribeiro se pergunta se a coisa toda não foi "cortina de fumaça" para esconder outras discussões mais importantes.
Amanda Evelyn, Ana Rita, Fabíola Perez, Leticia, Ludmila Primo, Nina Rocha e Roberto Martins deixaram likes.
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Até quinta, às 8h30, aqui na Eixo.
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Que lindo uma Eixo sobre o livro que não sai de mim. Engoli e fui engolida pela história. Viva Ana Maria! Viva Kehinde!
Bela crônica, encontros inesquecíveis e enriquecedores.
Eu ainda não li o livro, mas tive o prazer de participar de um curso sobre o mesmo, em uma Oficina promovida pela Portela. E, o melhor, na abertura, tivemos uma roda de conversa com a autora.
Estou na torcida para que conquiste a vaga. Será histórico.