Há sempre um copo de mar
Como foi a derrota do Botafogo para o Palmeiras na Copa do Mundo de Clubes?
Por Ana Rita Lima da Cunha
Tem dias em que tudo dá errado.
Você acorda de madrugada e dá uma topada na maçaneta do banheiro. Seu time é eliminado com um gol na prorrogação. Por fim, em busca de consolo você liga para seu marido e ele não te atende.
É a vida. Mesmo depois de você ter feito promessas, pedido para São Judas Tadeu, santo de devoção da sua sogra, prendido a respiração antes de cada defesa do John, o Botafogo perdeu.
O infortúnio acabou me lembrando um taxista botafoguense:
— Para torcer pelo alvinegro é preciso antes de tudo ser cínico.
Ele falava do desconsolo da final da Copa do Brasil de 1999. Última vez que o Maracanã recebeu mais de 100 mil pessoas em um jogo. Botafogo e Juventude.
— O Botafogo precisava de meio gol, recordou o taxista.
Terminou 0x0. Foi a primeira vez que lembro de ter chorado por futebol.
No último sábado eu estava nervosa. Porque o Botafogo está bem. O time jogando bonito, e eu fui muito feliz em 2024. E quando se é feliz se tem muito a perder.
Eu precisava que o Renato Paiva não tivesse colocado três volantes em campo, que o Igor Jesus não encerrasse sua passagem pelo Botafogo sem marcar um gol, que o Newton tivesse dado o passe certo para o Montoro. Mas os deuses do futebol, São Judas Tadeu, Renato Paiva, Igor Jesus, Newton, o juiz francês, nenhum deles atendeu às minhas vontades.
— Vai ficar tudo bem, sorri minha irmã.
— Essa é nossa teoria da conspiração favorita, complementa.
Eu ri. Ri um riso solto, ri de mim mesma, ri da desgraceira toda, ri com minha irmã. E de alguma forma esses risos cúmplices amarram a esperança no desalento.

Fiquei olhando para a mesa, meus irmãos, minha mãe e eu vestidos com uniforme do Botafogo. Uma cena bonita que me lembrou meu pai, um baiano hiperbólico, que nos transmitiu uma paixão alvinegra igualmente hiperbólica.
Desviei o olhar para o hematoma no braço e pensei que ele nem estava doendo tanto e era uma excelente oportunidade de conversa furada. “Isto aqui? Isto foi de quando bloqueei o ataque de um pitbull. O roxo é do tamanho do focinho dele”.
E eu também lembrei que eu sou ateia, não praticante como diz o Saulo, mas ateia. E isso trouxe à baila a memória cômica de quando eu tive medo de aparecer no Datena por pagar uma promessa distribuindo saco de doces de Cosme e Damião no parque Ibirapuera.
E o Saulo, no fim das contas, é um bom marido e me ligou logo depois. Ele foi carinhoso, e me disse que sofreu também porque estava torcendo pela nossa vitória, e mandou uma foto de infância, de quando ele — hoje vascaíno — , vestia o uniforme do Botafogo para a alegria da minha sogra e da tia dele.
Vai ficar tudo bem.
E aí, curtiu? Mande um alô!
Salve, meu povo! Essa é uma edição especialíssima da Eixo, publicada em 03 de julho de 2025, por ocasião da eliminação do Botafogo pelo Palmeiras da Copa do Mundo de Clubes. Caso tenha gostado, deixe sua curtida e comentário. Confira aqui outras edições da nossa newsletter e clique aqui para assinar.
Parabéns aos leitores pela escolha da crônica destacada. Tema super interessante.
Quanto à derrota do Botafogo para o Palmeiras, foi mais decepcionante que triste. Parecia um outro time em campo. Os longos anos de botafoguense me ensinaram a conviver com essas instabilidades. Sem sofrimento.
Parabéns à Ana Rita pela emoção e.criatividade expressas no texto.