Natal na Faria Lima
Por que uma baleia virou o assunto do momento em SP?
Por Saulo Pereira Guimarães
De volta das férias, procuro me atualizar sobre São Paulo. Descubro que o metrô agora aceita pagamento por aproximação com cartão de crédito ou débito. Que o governador que era pré-candidato à presidência só deve mesmo disputar a reeleição, já que o filho do ex-presidente que o projetou decidiu concorrer ao Planalto. Que um clube de luxo com mensalidade de R$ 3 mil e piscina de ondas programadas abriu na Marginal Pinheiros.
E que tudo isso, apesar de recente, não é a grande novidade da cidade.
A grande novidade da cidade esteve no topo de uma escultura metálica de 6 metros de altura, projetada pelo arquiteto Thomas Balskey e localizada na avenida Faria Lima. Apesar de rápida, sua passagem foi marcante e insistentemente registrada por vários sites de notícias. A novidade consistiu num pequeno gorro vermelho, que enfeitou a peça, conhecida como Baleia, ali por meados de novembro. Talvez nem tão pequeno assim, já que quem o viu no topo da obra associou de imediato o conjunto por eles formado a um resultado fálico. Daí para apelidos como Moby Dick foi um pulo. “Fiquei na dúvida se era decoração de Natal ou campanha contra DST”, comentou um internauta. Diante da repercussão, o gorro foi prontamente removido.
Eu mal havia saído do avião e já discutia num bar as possíveis razões para tragédia. É certo que a decisão emanou de uma mesa longa, cercada de engravatados por ambos os lados. Há quem diga que a ideia surgiu de algum chefe e que nenhum subordinado teve coragem de desencorajar. Ou que resultou de um longo brainstorm de um time de marketing, focado em fazer o melhor valuation da Baleia e extrair a maior taxa de retorno do asset. Ninguém acredita que um porteiro ou zelador mais maldoso tenha ido até a escultura e coberto seu topo com o gorrinho, que se revelou uma piada de mau gosto na primeira foto de iPhone 17.
Porque, na Faria Lima, só são tomadas as grandes decisões e, no Brasil, elas não cabem a porteiros e zeladores.
O pano de fundo de tudo é uma desconexão com a realidade tão pavorosa quanto reveladora. Aparentemente, a malícia que sobra nos CDBs do Banco Master falta enormemente no senso estético dos decoradores responsáveis pelo Natal no centro nervoso do mercado financeiro no Brasil. Uma baleia de metal gigante com um gorro vermelho no topo é algo tão surreal quanto engarrafamentos de patinetes, a kombi com frutas de graça na sede do Google ou fintechs que sirvam para lavagem de dinheiro do crime organizado. Mais do que certo ou errado, tudo isso é muito estranho, mas existe na Faria Lima e, hoje em dia, todo mundo sabe.
O mais curioso é que o Natal, essa data tão saudada pelos cristãos, tenha servido para trazer à tona mais essa verdade. Se não é certo que o aniversariante do mês teria senso de humor suficiente para rir da situação, é bem provável que ele ao menos se divertisse com o vexame protagonizado pelos ricaços. “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o Reino dos céus”, ele talvez repetisse, diante da situação.
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Coisa de gente que quer chamar atenção com ideias estapafúrdias ! Isso é Sampa!
Uma baleia metálica usando um gorro que remete a um símbolo fálico pode ser uma forma de desviar a atenção.para acontecimentos.sérios na cidade. Quem sabe?