25 de Março
Como está a rua mais famosa de São Paulo em meio à crise diplomática?
Por Saulo Pereira Guimarães
Desde que Donald Trump disse que a Rua 25 de março é "um dos maiores mercados de produtos falsificados", as coisas nunca mais foram as mesmas naquele agitado pedacinho do Centro de São Paulo. A investigação por venda de produtos piratas e falta de proteção dos direitos de propriedade intelectual aberta pelo governo americano transformou camelôs, chamadores e lojistas em potenciais inimigos do livre comércio — justamente em um dos lugares onde o comércio é mais livre.
Diante do anúncio inesperado do último dia 15, jornalistas foram enviados à 25 para sondar o terreno. E as respostas colhidas foram as mais interessantes possíveis. Uma dona de Santa Catarina que comprava camisetas Tommy Hilfinger esclareceu à Folha, sem medo da Receita Federal: "a gente sabe que são falsas, todo mundo sabe". Diante da maior crise diplomática entre Brasil e Estados Unidos desde o governo Carter, Brasília teve de se manifestar. Mas mesmo o sisudo ministro da Casa Civil não conseguiu não ver graça na situação. "Não dá para imaginar um cenário onde uma das duas maiores potências do mundo está preocupada com a 25", disse Rui Costa. O excelentíssimo foi capcioso ao não dizer o nome da outra grande potência do mundo, mas teria sido mais ainda ao associá-lo à 25.
Como era de se esperar, não tardaram a ser organizados protestos contra a polêmica medida. Na manhã do dia 18, sindicalistas unidos tomaram as ruas — ou melhor, a rua — numa mobilização multitudinária — mais precisamente, de 120 pessoas. O ato gerou em alguns as mais controversas emoções. "O Trump está errado de taxar o Brasil", disse, taxativo, um repositor. "Mas, se esse dinheiro voltar pra cá, o Lula também vai roubar", completou, numa lógica tortuosa. No mesmo dia, uma mulher falou algo parecido, mas com sinal ideológico invertido. "O protesto é desnecessário, não vai mudar nada", reclamou. "Mas Trump não tem nada que se meter aqui", frisou, impaciente.
O fato é que a situação veio contribuir para o já precário quadro da saúde mental do brasileiro.
Houve também quem optasse por ataques mais frontais. "Trump não aguentaria um dia de trabalho na 25", cravou um fulano. "Nesse sol quente? Nem pensar", acrescentou. Enfim, a discussão não é sobre isso.
Brincadeiras à parte, a União dos Lojistas da 25 de Março e Adjacências informa que há mais de 3 mil estabelecimentos que recolhem impostos e vendem itens (lícitos) na região. A associação não nega "casos pontuais de comércio irregular", mas reforça que eles são alvos de fiscalização e não refletem a realidade da maioria dos comerciantes. Por fim, a entidade lembra que a maior parte dos produtos vendidos na região é importada da Ásia, especialmente da China, e não envolve qualquer relação com os Estados Unidos. Quem melhor resumiu a questão foi uma vendedora vestida em trajes de festa junina e flagrada pelo G1 por ali na semana passada: "O Trump tem que ficar mais ligado no que rola aqui, porque a gente é do bem". Por hora, ficamos na torcida pelo melhor desfecho.
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Salve, meu povo! A última edição deixou os leitores com água na boca. Ana Rita lembrou da vez que fizemos uma "baratona" com amigos na Tijuca e a Eliete Pereira (que cozinha melhor do que todos os chefs citados) sentiu "vontade de saborear as iguarias". Dinorá Zanina ficou com fome, mas não era a intenção. Pedimos desculpas!
Ana Lima, Ananda Porto, Camila Maia, Carlos Sousa, Luanne Batista e minha mãe deixaram likes.
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Muito legal o texto, Saulo. Crônica saborosa!
Trump, americano arrogante, está de olho é em nossas riquezas; é um hipócrita!😡