Por Saulo Pereira Guimarães
Desista. Se você deu o azar de estar no Rio em um dia de chuva, o melhor a fazer é se trancar em casa, ir dormir e esperar o tempo passar. Há certas cidades que são feitas para determinadas condições climáticas. São Paulo não faz sentido em dia de sol, por exemplo. Salvador perde a graça com chuva. Já o Rio se desfaz completamente. É cair a primeira gota e toda beleza do céu que o abraça de ponta a ponta se perde.
A cidade inteira vira um pântano habitado por mal-humorados nativos de casaco e bermuda. As onipresentes sandálias se enlameiam num instante. As montanhas se escondem atrás das nuvens e, nas piores ocasiões, se abate sobre todos um imperial e inacreditável frio petropolitano. Sob marquises super-lotadas, os cariocas aguardam incrédulos enquanto se protegem dos ônibus que passam provocando ressacas em poças d’água.
É como se tudo tivesse dado errado. Pra que tanto sol, pra que tanto mar, pra quê? De que servem essas paisagens todas, essas ruas cobertas de pé de moleque sem a indispensável companhia da luz que a tudo dá cor e faz sorrir? E quando é tempo de frente fria, o que às vezes demora minutos se estende por dias ou semanas. Um inferno úmido, morno em tudo, insuportável. Você se revolta, pragueja contra a necessidade de ir à rua e, quando se convence de que a vida já não tem mais jeito, a chuva estia.
Presença esquecida, o sol se aproxima como se não tivesse estado fora. E sobe das ruas o cheiro quente de tudo que seca. Antes densas, as nuvens agora se esgarçam, fazendo com que a luz que chega destaque o verde vivo das árvores, o marrom duro dos morros e o azul maravilha do céu. As cores das roupas, o aroma dos pratos, o som das buzinas. Sorte de quem teve a paciência de esperar. É a festa da vida outra vez.
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Salve, meu povo! Nossa última edição está longe de ser o kibe do Bracadum, mas também é um sucesso. "Você é um cronista maravilhoso", disse Ana Rita e eu não questiono — porque ela é só não é mais crítica do que apaixonada por mim.
Ana Bimbatti, Amanda Evelyn, Cauê Marques, Deborah Medeiros, Fabíola Perez e Vinicius Motta deixaram likes.
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Comento tardiamente para lembrar que, ironicamente, um dos meus pagodes favoritos é sobre um dia chuvoso no Rio. A escolha do verbo para falar de dias de chuva comprova seu ponto: "o dia se zangou, então choveu". Nada mais carioca que chamar a chuva de resposta raivosa dos céus. Eu, uma boa brasiliense, no entanto, amo chuva, até mesmo no Rio.
Assim mesmo,rs! Rio, sol e praia é a melhor pedida 😁