Bolo de noiva. Assim é conhecido o Edifício Domus, situado na esquina das ruas Marquês de Itu e Sabará, em Higienópolis. O apelido se deve ao formato arredondado que, além de um bolo de noiva, lembra também a frente de um navio ou algo do tipo. Ali, apartamentos de 500 metros quadrados com quatro quartos, três banheiros e área de serviço saem por R$ 4,5 milhões. Num deles, em meio a obras de arte sacra, latas de Coca-Cola e maços de cigarro, vive Charles Cosac.
Charles Cosac é rico. Sua família fugiu da pobreza na Síria no começo do século XX, chegou ao Brasil por acaso e fundou um conglomerado de mineradoras que lhe rendeu fortuna. Quando Charles nasceu no Rio, em 1964, o dinheiro já era suficiente para que todos morassem em um apartamento na avenida Rui Barbosa, de frente para o Pão de Açúcar. Para ele, o mundo se resumia a Paris, Londres ou Rio. E, ainda assim, um Rio que começava no Flamengo e terminava no Leblon. Gay numa família tradicional, aos 16 anos foi estudar na Inglaterra — onde ficou até os 33.
De volta ao Brasil, estabeleceu-se em São Paulo. "Eu me tornei brasileiro em São Paulo", admite. Assim como admite que seu fetiche por livros de arte foi o que motivou a criação da editora. Aqui começa o que se pode chamar de vida profissional de Charles Cosac. Sua editora, a Cosac Naify (lê-se nêife, embora todo mundo fale naífi) ficou conhecida pelo bom gosto dos livros. Nós mesmos aqui em casa temos alguns. Uma obra completa do João Antônio. Uma biografia da Clarice que surrupiei de alguma redação. Um Lévi-Strauss que é o xodó da Ana Rita. Tudo com capa dura, design refinado. Objetos que marcaram minha entrada e a dela no que decidimos que seria nossa vida adulta. Mas a editora, até por causa de todo esse luxo, dava prejuízo. E foi fechada em 2015.
À época, Charles disse que investiu R$ 70 milhões sem nunca ter tido retorno. É muito dinheiro. "Quando o dinheiro perde o sentido na vida, você começa a trocar os pés pelas mãos", admite. Assim como admite que, aos 4 anos de idade, os pais lhe diziam que nunca haveria necessidade de que ele trabalhasse. "A gente nunca fez nada com o intuito de sobreviver", admite. "Isso me deixou completamente infantilizado", conclui.
Você que me lê não é bilionário. Por isso, lhe convido a fazer o exercício: como seria sua vida se você não tivesse que correr atrás de dinheiro? É certo que você teria várias coisas que não tem. Mas essa história me chama atenção pelo contrário: o que se deixa de ter quando se tem muito dinheiro. Não são só preocupações. É também o empenho verdadeiro em qualquer conquista. Aparentemente, as coisas perdem o sentido.
Isso não exime ninguém da irresponsabilidade social de ser milionário num mundo de gente faminta. Mas acredito de verdade que possa ser um drama para quem o vivencia — ainda que a solução pareça ser meio óbvia. Aos 60 anos, Charles Cosac abriu uma nova editora e pesquisa asilos na Europa para uma morte tranquila.
Não o julgo. Mas, talvez, sinta um pouco de pena.
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Salve, meu povo! Para Eliete Pereira, o bar também reflete desigualdades. Alexandre Almeida disse que há vários como o Bracarense. Ana Rita defendeu o sanduíche e Ludmila Primo reclamou dos bares alternativos em que todos são brancos. Já Simone Freire come empada de garfinho (não condenamos).
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A proposição do Saulo "Por isso, lhe convido a fazer o exercício: como seria sua vida se você não tivesse que correr atrás de dinheiro?". Provoca um turbilhão de pensamentos contraditórios, nos faz refletir sobre a vida de quem precisa matar leão, todos os dias, para sobreviver com a de quem não tem nenhuma necessidade de se esforçar para ter uma vida de regalias.
Qdo existe um vazio interior, dinheiro nenhum preenche !