O cara na fila do lado de fora esperando para entrar era branco. A moça que estava com ele era branca. O grupo de amigos ao lado deles era branco. E o cara do bar que organizava a fila na entrada era branco. "Tem lugar no balcão?", perguntei. "Sim", ele respondeu.
Entrei.
Na parte externa, que é coberta por toldo e avança sobre a calçada, só brancos em todas as mesas. Lá dentro, em volta do balcão, sentados ou em pé, mais brancos. Peguei um dos únicos tamboretes vagos e pedi uma água com gás.
A situação era inusitada. Mas, a favor do estabelecimento, é preciso dizer que qualquer um podia entrar. A prova maior era a minha presença lá. O balcão abraça a cozinha, onde garçons preparam drinks e pratos. Do lado de lá do balcão, mais perto da entrada, há uma estufa repleta de bolinhos, rissoles e outros salgados. Há um clima de saída de praia chic, que faz com que a experiência seja profundamente diferente de uma ida aos bares tijucanos. Aqui, a havaiana é suja de areia -- não de passado.
Um hippie chega com o pai, de polo e bermudinha, e senta o velho ao meu lado. A dupla pede um chopp, logo servido. O hippie pede ao pai que espere antes de beber. "Deixa eu produzir conteúdo", diz ele, antes de filmar com o celular. Puxam papo com um casal nas duas últimas cadeiras da direita. "Aqui é ótimo", a leblonense de meia-idade se derrama. "O chopp do Clipper é melhor, mas as comidas, não. E o Jobi já foi", ela explica. A fala me transmite lugar de fala. "E qual é o melhor acepipe aqui?", o hippie pergunta. "Pede o bolinho de camarão e catupiry que vocês não vão se arrepender". O hippie pede. Ele e o pai comem. O velho se desfaz em elogios. Os dois levantam, se despedem e seguem para saída. A leblonense alerta o garçom -- "olha lá, vão sair sem pagar" -- porque, apesar de tudo, ainda estamos no Rio. Mas pai e filho chegam ao caixa e todos se tranquilizam.
Vejo Ana Rita na calçada. Aceno, ela vem e senta no tamborete recém-deixado pelo velho. "O que tem de bom pra comer?", pergunta e eu prontamente indico o bolinho recomendado pela leblonense -- muito embora deteste catupiry. O garçom exibe seus dotes preparando quatro caipirinhas ao mesmo tempo para a família de Goiânia à minha esquerda. "Um bar assim lá em Goiânia não faz sucesso", diz um deles, com um belo jeitão de quem também não iria a um bar assim por lá se existisse.
"Você já viu alguém comer empada com colher de sobremesa?", eu pergunto à Ana Rita enquanto acompanho, incrédulo, um branco, mais ou menos da minha idade (mas com mais dinheiro) fazê-lo sem nenhum constrangimento do lado de lá do balcão.
Vem o bolinho, ela come. "Isso aqui daria uma bela newsletter", eu digo e ela tira a foto acima. Pedimos ainda um sanduíche de pernil com pão da Talho Capixaba que ela jura que estava bom, mas que eu não achei tão bom assim. E chopp. Ana Rita gosta de chopp. Eu não gosto. "O chopp no Rio é sempre bem tirado", ela diz. Eu não sei. Você, caso queira saber, vá até o Bracarense e tire suas conclusões.
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Salve, meu povo! Nossos leitores se derreteram pela última edição. "Não sou grande apreciadora de sorvete, mas me senti tentada a provar alguns desses sabores exóticos", disse Eliete Pereira. Já a Dinorá Zanina afirmou que sorvetes de fruta são os seus preferidos. "Cupuaçu então, amo", disse.
No Instagram, Giselle Soares, Helena Borges, Luciane Scarazzati e Manu Nascimento deixaram likes.
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É o bar, aparentemente descolado e carioca, refletindo nossas desigualdades sociais. Desce o chopp. Kkkkk
Senti o climinha daqui.
Hahahaha
Outro tipo de bar que não viajo são os aparentemente alternativos, mas que são brancos e elitistas tal qual o descrito no seu texto.
Aqui em Salvador tem um bem assim, a sensação do verão e da galera descolada. Hahahaha